Dando sequência nas postagens do mês de março, envolvendo a divulgação e análise de trabalhos musicais com a presença ativa de mulheres maravilhosas, hoje estaremos apresentando uma banda que, apesar da grande importância e influência para grupos femininos que surgiram posteriormente, como The Runaways e Girlschool, ainda é negligenciada ou desconhecia por muitas pessoas. E não, você não vai encontrar a Birtha no Spotify, então aproveite ao máximo este conteúdo disponibilizado gratuitamente pela Casa Sonora.
Nos anos 1970, em meio a um cenário musical dominado por bandas masculinas no hard rock, o quarteto californiano Birtha rompeu barreiras com sua abordagem vigorosa e atitude destemida. Formada por Shele Pinizzotto (guitarra e vocais), Rosemary Butler (baixo e vocais), Sherry Hagler (teclados e vocais) e Olivia “Liv” Favela (bateria e vocais), a banda se destacou pela força de suas composições e pela execução afiada, provando que mulheres também podiam comandar o palco com energia e presença marcantes.
Nascida na efervescente cena musical de Los Angeles, a Birtha rapidamente conquistou espaço com apresentações intensas e repletas de carisma. Durante sua curta, mas impactante trajetória, abriram shows para gigantes como Alice Cooper, Fleetwood Mac, e The Kinks, além de realizarem turnês pela Europa. Seu comprometimento com performances ao vivo impressionava até os críticos mais céticos, consolidando-as como uma das primeiras bandas femininas a tocar hard rock de maneira genuína.
Os álbuns: potência e musicalidade
Birtha (1972)
O álbum de estreia, Birtha, foi lançado pela Dunhill Records e contou com a produção de Gabriel Mekler, conhecido por seu trabalho com Steppenwolf e Three Dog Night. Gravado no ABC/Dunhill Studios, o disco trouxe uma sonoridade densa e pesada, com forte influência do blues rock e do hard rock britânico da época. Faixas como “Free Spirit” e “Fine Talking Man” evidenciam o vigor instrumental da banda, com riffs encorpados e vocais repletos de emoção. O teclado de Sherry Hagler acrescenta uma camada sofisticada aos arranjos, enquanto a bateria de Olivia Favela mantém uma pegada pulsante e precisa.
As letras abordam temas de liberdade, relacionamentos e empoderamento feminino, refletindo a postura confiante da banda. Além de tocar seus instrumentos, todas as integrantes também cantavam. As vozes se destacam pela entrega emocional e timbres poderosos, adicionando personalidade às músicas.
Can’t Stop the Madness (1973)
No ano seguinte, a Birtha lançou Can’t Stop the Madness, também produzido por Mekler. A gravação ocorreu novamente no ABC/Dunhill Studios, mantendo a identidade sonora do primeiro disco, mas trazendo uma abordagem ainda mais lapidada e experimental. As faixas mostram um amadurecimento na composição, explorando grooves mais dinâmicos e variações instrumentais que enriquecem a experiência auditiva.
Destaques do álbum incluem “My Man Told Me” e a faixa-título “Can’t Stop the Madness”, que exibem uma fusão entre rock pesado e elementos de soul e funk, características que davam à banda uma identidade distinta dentro do gênero. Apesar da qualidade inegável do disco, ele não obteve o reconhecimento comercial esperado, o que contribuiu para o encerramento das atividades do grupo pouco tempo depois.
O legado da Birtha
Embora tenha tido uma breve carreira, a Birtha deixou uma marca indelével no rock. Elas pavimentaram o caminho para outras bandas femininas que viriam a ganhar maior visibilidade nos anos seguintes. Seu impacto ressoa entre apreciadores(as) do hard rock setentista, sendo redescobertas por novas gerações que buscam referências autênticas do período.
Se a Birtha não alcançou o estrelato que merecia, certamente se consolidou como um dos mais notáveis exemplos de que o rock pesado não tem gênero. Sua música permanece como um testemunho da força e talento feminino na cena musical dos anos 1970, provando que o poder do rock transcende barreiras e preconceitos.